TARCEU PINTO
( Brasil – São Paulo )
Tarceu Pinto (SP), poeta.
Ref.: A Produção Independente na Literatura – Catálogo para o Movimento, 1982.
DIMENSÃO. Revista Semestral de Poesia. Ano V - No. 9 - 2º. Semestre 1984. Editor Guido Bilharinho. Uberaba, MG: Gráfica Frei Eugênio, 1984. 36 p. Ex. bibl. Antonio Miranda
OS ELEMENTOS
I
A calçada
guarda o eco dos passos dos homens
por quantos séculos, ainda,
manteremos a melodia acorrentada
ou o segredo da Alquimia
debruçado sobre a essência das horas ?
II
No outro lado da rua,
a Mulher-Estátua, transnuda e imortal,
recebe visitas de pombas e pássaros
que vão beber na sua fonte.
Naqueles tempos,
a mão do artista, imitando século,
marcou, no semblante da estátua deusa grega,
os traços imortais da perfeição artística.
III
A beleza grega casta bela,
na certa nunca esperava
ser maculada de manchinhas brancas
das pombas do parque,
tão displicentes [sem arrogância racional]
percorrendo seu corpo, sereno universo
onde o artista se consumiu
na imensidão de criador.
IV
São vulneráveis os Deuses do Olimpo,
na contemporânea imagem além da terra.
Frutos do tempo
permitem os olhos !
V
A calçada
guarda p segredo dos passos dos homens.
Na Alquimia das estrelas,
doce é o fruto
onde germina o brilho.
Não mostrem o crepúsculo
se não foi possível
conviver com a aurora.
VI
Desejo:
— abstrato sol de meio-dia —
Pelo espelho dos reflexos,
ouviu-se do sol :
— Por nove luas
permaneceu no seu ventre,
alimentou-se de sua sei
— LUZ —
VII
Pousam a voz
na lembrança da última flor
por trás da estátua.
Ambas
ressuscitarão na manhã.
VIII
O orvalho
banhá-los-á de fantasmas.
O sol
abrirá sobre a terra
o silêncio da infância.
E um anjo,
mediado de espanto,
como querendo dizer:
— Eis-me, dormirei no seu colo,
e morte há de ressuscitar
a única flor selvagem.
IX
Fonte:
— seja água onde seja vida —
Deram-lhe a precisão da memória
e a perpetuação da hera.
X
Vento:
— aprisionaram-lhe o caminho,
filho da desolação —
Deram-lhe a liberdade
de restaurar o universo conhecível.
XI
Inconcebível o acalanto
na Alquimia dos Deuses.
Jogar à fonte a moeda
sob a vaga forma de um desejo.
XII
Consumada de instante,
a eternidade acompanhará
o leve traço azul do horizonte.
O arco-íris cerrará a voz
e
calmo será o universo das sementes.
XIII
No exato instante do abandono
[sem pecado]
Concebível será o acalanto
fascinado de serenidade.
XIV
A calçada
guarda o eco dos passos
do último homem.
A boca e as mãos,
entre risos e movimentos,
brincam de vida como sempre fizeram.
XV
O segredo da eternidade
incrustado nos seus poros
como mármore e memória na confirmação
— do artista —
Pedra:
— a oferta profunda —
(São Paulo/SP)
*
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Página publicada em novembro de 2022
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